8.3.09

Pontes

Embora saibamos que o fim existe, há sempre um mote guardado à procura de vaga entre as falas para dizer que o bem persiste. Um traço de azul quase nunca se apaga no céu e exige muito esforço das nuvens para que não se mostre. A distância encurtada ou alongada processa a vida com seus sabores ou memórias. Existir a história primeiro e a geografia depois é uma regra. Só existe onde se algo há ou houve. As páginas escritas são a água ou o fogo do quanto se dista. Bom lembrar encurta lonjuras e o inverso vê-se.

Há guardado em mim o que de ti sobrou quando fizemos a vida sem polêmica e atravessamos parte da terra caminhando de mãos dadas. Nos olhos que viajam juntos encontra-se a mesma admiração para qualquer paisagem. O tempo cuida para que, no dia em que já não exista, apareçam os quadros antes mirados. As imagens impressas contam o que cada um olhava. Pelos passos que damos chacoalha-se a peneira dos resumos. A memória, afinal, é implacável.

Suspende-se a voz por um momento em busca de se reconhecer. Saber o que de melhor soube é quase imperativo. Sabores se gravam melhor quando identificados com semblantes. Mesmo assim compreender quem lá estava é desnecessário. Quem está naquela geografia tem seu estar gravado pelo existir inequívoco.

As travessas lançadas entre as margens do passado e do futuro, aquelas todas que alcançaram os dois pontos, constroem as pontes que sustentam o ser que agora atravessa. O ser identificado com a ponte, cada ponte, segue seu caminho para uma das margens ou desaparece com aquela que rui.

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